sexta-feira, 16 de setembro de 2011

E o que é que o sexo tem a ver

E o que é que o sexo tem a ver?

Se, no amor, não importa a idade, o aspecto físico ou a profissão, o género poderá também não ser um factor determinante. Sem rótulos ou classificações, o que interessa são valores e interesses comuns.

No livro The Joy of Gay Sex está escrito que “há muitas tonalidades no espectro do amor”. Eu não podia concordar mais e é por isso que nunca consegui rotular a minha orientação sexual. Não percebo qual é a vantagem de estar encaixada numa definição (sou naturalmente indecisa e de vez em quando preciso de mudar). Não saberia por onde começar se me perguntassem qual é a minha profissão, e lá porque já estive com uma rapariga, não me considero lésbica. Só faz de mim alguém que teve uma relação com uma rapariga, uma vez na vida.
Quase todas as mulheres têm um amigo gay. É uma relação preciosa. Pode ser um cliché mas não deixa de ser verdade que podemos passar tardes inteiras com ele a comprar sapatos e carteiras, sabe as letras de todas as canções da Beyoncé, está sempre impecavelmente vestido e é muito bem-educado com a nossa mãe.
As lésbicas, por outro lado, não têm sido muito bem tratadas. Os media decidiram dividi-las em três tipos: as infelizes com um mau corte de cabelo, as que odeiam homens e as machonas.
Há ainda uma terceira categoria: os bissexuais: mulheres sensuais, prontas a ter sexo com qualquer pessoa ou homens desesperados, que querem ter relações com tudo o que mexe. Mas, mais uma vez, estas definições não passam de um lugar comum que não se aproxima, de todo, do que se passa no mundo real.
Quando era adolescente, as mulheres que eu idolatrava eram fortes, ousadas, atraentes e sexualmente confiantes. É impossível não admirar a personagem de Sharon Stone em Basic Instinct (fazia com que todos os homens à sua volta parecessem idiotas chapados). Ou Debbie Harry, a grande líder dos Blondie (alguém se lembra dos outros músicos?) A qualidade alfa é tão atraente em homens como em mulheres. Uma boa auto-estima é algo extremamente sexy.
Apesar de não ser o tipo de mulher de rapariga com inúmeros pretendentes, desde os meus 17anos que sempre tive um homem qualquer na minha vida. Mas chegou um momento em que estava sozinha e em que comecei a sair com uma amiga – chamemos-lhe M. Saíamos e bebíamos vinho juntas, queixávamo-nos da falta de homens atraentes e um dia rimos tanto que acabámos na cama. Foi tudo muito natural, divertido e certo. Eu já tinha beijado mulheres antes – às cinco da manhã, com os copos, é socialmente aceitável. Mas isto era diferente.
O desafio mental que é estar com uma mulher é completamente diferente do que é sair com um homem. A começar pelo facto de ainda ser considerado algo ilícito. As pessoas apressam-se a fazer julgamentos e, como já disse, não gosto de rotular a minha sexualidade.
Com uma mulher, o jogo tem outras regras. Com um homem é: esperar três dias até voltar a telefonar, nada de sexo no primeiro encontro, etc., etc. Com uma mulher pode-se ser honesta, esquecer os truques. E, claro, há o sexo. Que, obviamente, é bom. Quando Lindsay Lohan namorava com Samantha Ronson, consta que havia intensidade, tipo roupas rasgada e cabelos puxados. E, de facto, há grandes vantagens no sexo com outra mulher: não é preciso esperar por uma erecção (que nem sempre acontece), pode-se fazer amor seis vezes por dia sem ser preciso mudar os lençóis e não existe medo de ficar grávida. Depois, num ponto de vista mais pragmático, pode dizer-se que se está com o período e obter como resposta palavras sinceras de apoio e um grande gelado de chocolate com pepitas extra.
Mas, como qualquer relação, também tem aspectos menos bons. Síndromes pré-mentruais simultâneos e, há que o dizer, a falta de força masculina – quem leva os sacos do supermercado escada a cima, as malas ou quem nos leva para a cama ao colo quando estamos cansadas? Mais: as mulheres estão sempre a falar de calorias e são ciumentas se falarmos com outras raparigas (ou com um homem). Essa foi, aliás, uma das razões que levou ao fim da minha relação.
O futuro da relação também tem se der considerado. Se estivermos com alguém do sexo oposto e um dia dissermos “Gostava de casar e ter filhos” isso é normal e, de facto, possível. Se estivermos com alguém do mesmo sexo e pronunciarmos essas mesmas palavras, fica um silêncio estranho e incómodo no ar.
Muito difícil também é não poder contar ao mundo, de uma forma natural, que estamos apaixonadas e felizes. Quando dizemos “Tenho uma namorada”, as pessoas ou ficam fascinadas ou horrorizadas. Quando falei de M, sem referir o sexo de proposto, a uma amiga, a determinada altura acabou por me escapar que se tratava de uma rapariga. A minha amiga acabou o vinho e saiu rapidamente. Já outra amiga, agarrou-me no braço entusiasmadíssima e disse-me “conta-me tudo”, como se eu tivesse apanhado uma doença tropical.
Cinco amigas minhas fartaram-se de ter namorados em série e começaram a namorar com uma mulher. Em alguns casos, durou apenas algumas semanas, mas noutros tornou-se uma relação estável. Aos poucos, a sociedade vai aceitando este tipo de opções. É natural experimentar, mas haverá necessidade de o definir com uma palavra concreta? O que é que se chama a uma mulher que dormiu com outra? Lésbica? Bissexual? Curiosa? Tarada? Experimentalista?
O aspecto físico não é importante – as pessoas mais bonitas costumam ser tão interessantes como um saco de plástico. Prefiro mil vezes sair com alguém divertido e inteligente do que com alguém lindo e aborrecida. Se a aparência não interessa, porque é que o género importa? Há um ditado que diz que os homens aprendem a amar as pessoas que acham atraentes e as mulheres aprendem a achar atraentes as pessoas que amam. Totalmente verdade.
Quando saio de casa, não olho para uma mulher gira e penso “Adorava ir para a cama com ela”. É muito mais provável eu reparar no homem sexy (e com ar malandro) que vai a descer a rua. Mas, às vezes, acontece conhecer-se alguém que tem todas as qualidades que procuramos na pessoa com quem queremos estar – pensa como nós, tem os mesmos interesses, gosta da mesma música. E cozinha bem e põe sempre a tampa da sanita para baixo. Por isso, contas feitas, não interessa a idade, a cor dos olhos e, sim, nem o sexo. É como no início do disco The Miseducation of Lauryn Hill, quando o miúdo diz: “pode-se gostar de qualquer pessoa mas quando se ama alguém, aceita-se essa pessoa por quem é, não interessa a aparência ou o que se faz.” Eu sempre gostei da Lauryn.

ELLE, Abril 2011



Adorei este texto/reflexão porque, sem dúvida alguma, não sou uma pessoa que acha mal existirem pessoas que gostam de outras pessoas do mesmo sexo – gays e lésbicas – ou que gostam tanto de pessoas de um sexo ou de outro – bissexuais. Acho que cada pessoa é como é e ninguém ter o direito de pôr essas pessoas de parte. Aliás, a isso chama-se racismo.
Confesso que sempre quis ter um amigo gay. Acho fantástico termos um amigo rapaz com quem possamos fazer coisas de raparigas sem estarmos a pensar se ele está a ser sincero ou se está só a tentar com que fiquemos caidinhas por eles.
Decidi colocar este texto aqui no blog para, algumas de vocês, pensarem se vale a pena criticar um homossexual ou bissexual só por serem diferentes.
Acabo este post com esta frase: Afinal de contas, o que tem de mal gostar de uma pessoa que gosta das mesmas coisas que nós, que pensa como nós e põe a tampa da sanita para baixo? 

2 comentários:

  1. Eu Acho que ninguém deve julgar ninguém...Ou seja porque gosta de pessoas do mesmo sexo ou por outra coisa qualquer...São pessoas que têm valores tal como os outros e acima de tudo são seres humanos...Por causa do racismo existe muita pessoa infeliz, Mas todos devemos lembrar-nos que somos todos iguais!! Igualdade acima de tudo :)

    Beijinhos

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  2. Olá Mariana, adorei a reflexão e acima de tudo o teu comentário ao texto. Eu Sou bisexual e maior parte das pessoas à minha volta nem desconfiam de nada porque ao olharem para mim não "notam nada". Namoro à 1 ano e 3 meses com uma rapariga fantástica que acima de tudo é grande amiga. Sinto-me bem e muito feliz com ela do que com qualquer outro rapaz que já namorei, não só por ser uma rapariga mas pelo ser humano fantástico que ela é.
    Tenho muitos amigos gays, bissexuais e lésbicas e muitos mais heterossexuais. Adoro-os a todos e das pessoas que "me conhecem" como sendo bissexual todos me respeitam e aceitam-me, porque eu sou assim e não posso negá-lo, é me natural. A minha família não sabe e os meus pais são homofóbicos, não me imagino nunca a contar-lhes e com isso escondo parte do que sou e da vida que tenho.
    :) Gostei muito do que li aqui.

    Beijinhos

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